domingo, 24 de fevereiro de 2013

VIA SACRA


Já no séc. IV, os romeiros visitavam a Terra Santa, de maneira informal, os santos lugares onde aconteceram a Paixão e Morte de Jesus. Este costume transformou-se no exercício da via-sacra praticado hoje, especialmente na Quaresma.

Esta tradição foi retomada no séc. XII pelos franciscanos em Jerusalém, onde na Via Dolorosa colocaram algumas capelinhas e marcas de pedra. Estas já seguiam a ordem cronológica e a via-sacra começou a encontrar sua forma atual, justamente no tempo da crescente devoção para com os sofrimentos de Jesus. Para quem não podia ir até a Terra Santa, os mesmos franciscanos divulgaram as estações da Via Crucis substituida por quadros pintados.

A Via-Sacra tem sua origem fundada dentro da espiritualidade franciscana. Francisco tinha especial devoção pela encarnação de Cristo; o assumir, por parte de Deus, a nossa humanidade. E, nesse mistério kenótico do Filho de Deus se contempla a encarnação, natal, e paixão; e, englobando todos, como centro e ápice, a Eucaristia.

Narra-se em Tomás de Celano: “Desde então, grava-se na sua santa alma a compaixão do Crucificado..., e no coração dele são impressos mais profundamente os estigmas da venerável paixão, embora ainda não na carne”. (2Cel 10,8). Em outra narrativa da Legenda dos Três Companheiros Francisco também demonstra essa particular devoção: “Uma vez, caminhava solitário perto de Santa Maria da Porciúncula, chorando e lamentando em alta voz. Um homem espiritual, ouvindo-o, julgava que ele sofresse de alguma enfermidade ou dor e, movido de compaixão para com ele, interrogou-o por que chorava. E ele disse: ‘Choro a paixão de meu Senhor, pelo qual eu não devia envergonhar-me de ir chorando em alta voz por todo o mundo’. O outro também começou a chorar com ele em alta voz”.

A partir da espiritualidade os franciscanos viram na via-sacra como que uma externação do que buscavam; ou, a quem buscavam se assemelhar.

Texto: Pedro Afonso


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